quarta-feira, 20 de abril de 2011

In Libris

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tantas maneiras de compor uma estante!


Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é por ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria e, lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.


Mário Cesariny

domingo, 17 de abril de 2011

Atenção: texto que pode ferir susceptibilidades

“De certeza que és daqueles que entopem o trânsito se te cheira a acidente mais à frente, abrandas, travas, esticas a cabecinha curiosa a ver quantos carros, se se foderam todos, se há feridos graves a agonizar no chão, com o bombeiro à rasca para estancar o sangue, outro bombeiro que não atina com aquelas talas de pôr o pescoço, topas logo, sentencias, este não aguenta até chegar a ambulância, e atrás de ti um comboio vagaroso de outros maduros como tu, todos a esticar a cabecinha, todos a apostar se vinha depressa demais, se foi óleo que havia por ali, se foi o carro da frente que mudou de faixa sem fazer sinal, gostas de ver e de imaginar o que aconteceu, problema nenhum, vai de manguito se alguém te apita para te despachares, precisas de tempo para absorver a imagem toda, precisas de um nadinha de horror dos outros, faz bem à alma, pensas antes tu que eu, antes tu que eu, a desgraça dos outros lava-nos por dentro, alivia uma parte, há uma pedagogia, quando vemos outra gente a segundos da morte certa, ou de uma vida na cadeira de rodas, a babarem-se para um guardanapo de plástico, outra vez bebes, outra vez dependentes, são afinal coisas que nos fazem sentir bem, porque todas as nossas merdas parecem agora pequeninas, comezinhas, por que é que os psiquiatras não dão consultas à beira da estrada, naquelas curvas mais apertadas onde dia sim dia não um porreiro espeta a cornadura, está a ver como os seus problemas se hão-de resolver, ora aquele senhor com a cabeça dentro do volante e a boca cheia de vidros, ora isso sim é um problema.”

Canário, Rodrigo Guedes de Carvalho (página 97)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A importância do cabelo



O cabelo é uma marca da nossa personalidade. É o cartão de visita. Cada penteado tem o seu significado que pode estar associado à fase da vida pela qual estamos a passar.
O penteado numa mulher é sempre decisivo. E estas imagens são a prova disso, pois podemos não ver o que elas trazem vestido mas com uma trança o look parece que fica logo composto e cheio de "personalidade". 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

In Libris

Conselho

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
Eugénio de Andrade

quarta-feira, 6 de abril de 2011

In Libris

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado

Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente

Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais

Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o qu´é costume

Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio

António Gedeão

domingo, 3 de abril de 2011

Futilidade?

Para muitos, falar de moda ainda é sinónimo de futilidade. Na verdadeira acepção da palavra, moda significa uso corrente, prática que se generalizou. E tal como Coco Chanel afirma “a moda passa mas o estilo permanece”. Portanto, por muito que se goste de moda e se compre peças caras, o nosso estilo é que é decisivo e devemos ser fiel a ele, quer gostem quer não gostem. O estilo é uma marca da nossa personalidade e não é por usarmos uma peça de marca que vamos estar bem vestidos.
                Tal como a pintura ou a literatura, a moda também é uma arte. Como analisar um quadro requer sensibilidade ver as colecções dos designers também.  
É inevitável falar de moda e não falar da relação da mulher com ela. Uma mulher é fútil por gostar de se arranjar, por gostar de moda?! Futilidade é, sim, uma pessoa esculpir o seu exterior e não apostar no interior. A mulher perfeita é aquela que consegue uma harmonia entre as duas coisas: a beleza física e a beleza interior. Uma mulher só é verdadeiramente bonita quando não vive apenas da imagem. Equilíbrio é a palavra-chave.
Gostar de moda é um modo de estar na vida. Uns gostam de futebol, fotografia, música e outros gostam de moda. Porque é que esta arte não pode estar no mesmo patamar das outras?
As marcas de luxo existem e estão aí para serem apreciadas e comentadas, porque cada pormenor, cada cor, cada textura tenho a certeza que foi feita com arte e é fruto de muito trabalho e imaginação. Acredito que cada peça de roupa tem uma história para contar. Por isso é que há cada vez mais blogues de moda, pois é um mundo que tem tanto para explorar. Agora cabe a cada um decidir o modo como a querem encarar, como uma banalidade ou como arte. Querem chamar fútil a quem gosta de moda? Chamem! 
Cati